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Cristianiismo versão espirita
Cristianiismo versão espirita

O título desta religião vem do designativo "cristo" — o ungido — o Messias salvador — dado a Jesus de Nazaré, que viveu na Palestina, na época da dominação romana, sob os reinados de Augusto e Tibério, sendo crucificado em Jerusalém, com 33 anos de idade. Oficialmente compreende católicos-romanos, protestantes e ortodoxos, se bem que, em sentido mais geral, abrange todas as seitas e doutrinas filiadas, dependentes ou afins, dessas três divisões principais; e num sentido ainda mais amplo abrange todos aqueles que aceitam a Jesus como mestre divino e salvador. (Usualmente se confunde catolicismo-romano com cristianismo no sentido de crer que cristão é somente o católico-romano, que como mostramos, é um erro grosseiro).

Mas nos últimos tempos surgiu uma doutrina cristã ainda mais avançada, o espiritismo, revelada por instrutores desencarnados e que tem plena autoridade porque melhor se ajusta à promessa evangélica de serem dados ao mundo, oportunamente, conhecimentos mais completos e mais perfeitos da vida espiritual. Segundo o espiritismo, com esse nome de Jesus, baixou à Terra, naquela época, um espírito sublimado, de soberana hierarquia, arquiteto e governador do orbe e segundo outros de todo o sistema planetário de que o nosso orbe faz parte; pastor divino de rebanhos humanos inumeráveis que habitam e evoluem nessas inúmeras esferas de atividade espiritual, de diferentes condições físicas e morais, que constituem o setor reservado à Terra no infinito universo.

Baixou à Terra como uma nova aliança de misericórdia entre Deus e os homens, para confirmar e completar os ensinamentos já transmitidos anteriormente por ele mesmo ou por enviados seus em diferentes épocas e regiões, como Rama, Krishna, Lao-tsé, Buda, Zoroastro, Hermes, Moisés e outros dessa fulgurante plêiade de instrutores espirituais do mundo, que a tradição esotérica muitas vezes confundiu com a própria divindade; veio para dar novo impulso e novo rumo à marcha da humanidade, que aqui na Terra ensaia os primeiros passos da sua evolução consciente, mostrando e exemplificando que o sentimento é fator mais perfeito que o intelecto, porque o amor é a lei soberana e definitiva dessa mesma evolução.

Sua vinda foi precedida de uma milenar e universal expectativa sobre um Messias que viria libertar o gênero humano de suas desgraças e imperfeições. Era esperado a qualquer momento em todo o mundo, na China, na Ásia, na Pérsia, na índia, vindo finalmente no seio do povo judeu que Moisés, o último enviado havia, como já vimos, convenientemente preparado para tal advento. Esse privilégio foi dado aos judeus entre outras razões por convir localizar o acontecimento em ponto equidistante do oriente e ocidente; por estar a Palestina mais próxima do maior centro civilizado e político da época — Roma — e por serem eles, os judeus, o único povo monoteísta daquela época e um dos remanescentes sofredores das legiões emigradas da Capela, que já haviam recebido de Jesus a promessa de sua divina compaixão.

O cristianismo na realidade nasceu somente após a crucificação de Jesus, tendo, em seus primeiros tempos, aspectos bem diferentes dos que mais tarde foram introduzidos por seus seguidores. Nesses primeiros dias, após o tresmalho do rebanho de discípulos, foram estes novamente se reunindo em Jerusalém em torno de Pedro, o discípulo mais autorizado e, como aguardavam a volta de Jesus para daí a pouco tempo, passaram a viver em comunidade, repartindo fraternalmente esperanças e bens. Chamavam-se Irmãos do Caminho, Nazarenos, Discípulos do Carpinteiro e por fim surgiu o título definitivo de Cristão. (Sugerido pelo evangelista Lucas. Vide Paulo e Estevão, F.C.Xavier, Editora FEB).

Entretanto, como o tempo passava e não se dava a esperada volta do Messias, reuniram-se os apóstolos novamente na casa de Maria, sua mãe, em Nazaré, indicaram Pedro como diretor espiritual, escolheram seu campo de ação individual e partiram para seus destinos compromissados de se dedicarem à propagação dos ensinamentos do Divino Mestre, dando os testemunhos necessários principalmente entre as classes pobres e sofredoras, promovendo uma verdadeira revolução espiritual; e como o que seus adeptos pregavam era fraternidade, igualdade e submissão a Deus, coisas portanto contrárias à corrupção e ao absolutismo dominante, em breve começou contra eles a perseguição dos poderosos.

Apesar da solidariedade que os unia surgiram, entretanto, as primeiras divergências quando Saulo de Tarso, após sua conversão, entendeu que a doutrina deveria ser pregada indistintamente a judeus e estrangeiros, ao passo que a corrente ortodoxa, reunida em torno de Pedro e Tiago, julgava que a revelação não deveria passar das fronteiras do povo eleito. Mas Paulo, perseverando, levou sua palavra ardorosa e convincente a muitos países estranhos e tornou-se, por isso, sem a menor dúvida, o fator mais ativo da propagação cristã pelo mundo.

Recrudescendo, entretanto, as perseguições, foram sendo então ceifados os primeiros propagadores: Pedro foi crucificado e Paulo decapitado, ambos em Roma, João perseguido, torturado e exilado em Palmos, Marcos tombou no Egito, Mateus na Etiópia, Lucas na Bitínia, Judas na Pérsia, Tiago em Jerusalém e, num crescendo espantoso de renúncia e de fé, centenas de milhares de adeptos foram sendo eliminados em diferentes épocas e lugares, principalmente em Roma e nas arenas dos anfiteatros da Itália e colônias romanas do exterior.

Esse primeiro período do cristianismo vai até quando o imperador Constantino oficializou a religião, outorgando-lhe o primeiro grau do poder temporal e, ao mesmo tempo desviando-a de seu verdadeiro rumo e finalidade espirituais. Quando, nesse dia, os sinos repicavam anunciando essa vitória de César, a história escreveu, do futuro catolicismo romano, a primeira, a mais profunda e mais lamentável derrota.

Nessa época, sérias e novas divergências haviam surgido entre os cristãos, trazendo enorme confusão entre os adeptos. Surgiram várias correntes: gnósticos, que pregavam a obtenção do conhecimento pela iluminação própria; os maniqueus, que proclamavam as concepções masdeístas de bem e de mal; os ananos, que negavam a natureza divina de Jesus; os ebionistas e os centos, que negavam que Jesus fosse Deus; os basilidianos, que negavam sua humanidade; os nicolaitas e os simonitas, que eram intemperantes e pregavam a salvação unicamente pela fé; os nestorianos, que dividiam a pessoa de Cristo; os pelagianos, que negavam a fatalidade do pecado original; enfim, uma infinidade de correntes de pensamentos todos de cunho filosófico ou especulativo, que muito se afastavam dos primitivos ensinamentos apostólicos.

Então, como remate a tão grande confusão, o imperador reinante Juliano, chamado o Apóstata — sobrinho de Constantino, deliberadamente reuniu os representantes de todas essas correntes em Constantinopla, pondo-os face a face, deixou que discutissem por vários dias e, por fim, à vista da inevitável discordância geral, dissolveu o congresso, proclamando a falência do cristianismo, com o argumento sofístico de que tal religião nada mais representava que um conjunto de cismáticos, bárbaros e fanáticos.

Mas, no entanto, do ponto de vista material, o cristianismo progredia desde a oficialização de Constantino; o sacerdócio se organizava em casta poderosa e os bispos de Roma, em luta aberta com o patriarcado de Constantinopla, sede então do império romano decadente, já se preparavam para o completo domínio político e religioso do mundo. Essa luta entre Roma e Constantinopla durou séculos, vencendo por fim Roma com a criação do papado e com a centralização em suas mãos de todo o poderio religioso, muito embora sem poder vencer a resistência do chamado oriente que, então, cindiu-se passando a formar o ramo cristão ortodoxo e cismático a que já nos referimos, e que engloba os cristãos gregos, sírios, russos e outros, correntes estas que permanecem separadas até os nossos dias.

Correu porém o tempo, e na Idade Média, como as heresias, isto é, as divergências permanecessem em muitas partes, o Vaticano criou dois novos e poderosos agentes de dominação e reacionarismo: a chamada Santa Inquisição, que exterminou em todo o mundo milhares de cristãos e as Ordens Mendicantes, que se espalharam por todos os países como agentes tenebrosos do papado ameaçando, espionando, seduzindo, denunciando e sobretudo, extorquindo dinheiro. Esse foi o período áureo durante o qual o poder do papa romano era maior que o dos reis e ditava ao mundo suas leis, sem apelação, em nome do Cordeiro, cujos ensinos todavia conspurcava, com sua própria corrupção e violência.

Mas, como a evolução não se detém, esse grande e quase invencível poderio viu crescer em torno de si uma onda de protestos irreprimíveis e sofreu duro golpe com a cisão protestante do século XVI, que rejeitava a autoridade do papa, mandava divulgar a Bíblia para esclarecimento dos espíritos, repudiava a santimônia, a confissão e outros dogmas e imposições obscurantistas do catolicismo. Acendeu-se por isso tremenda guerra religiosa que durou séculos, sacrificando novamente milhares de cristãos e que ainda hoje perdura, se bem que controlada em seus excessos pelas leis e pelas conquistas liberais da civilização atual.

E, nos dias que correm, forças poderosas, de novas deologias, mais avançadas, ameaçam os baluartes dessas religiões espiritualmente decadentes, que já não satisfazem mais a consciência livre e melhor esclarecida das novas gerações de homens que se esforçam, eles mesmos, para o advento de um mundo renovado, à luz dos verdadeiros ensinamentos cristãos, segundo o espírito e não a letra ou os interesses da vida material, grosseira e utilitária. Os códigos doutrinários do cristianismo em linhas gerais são:

- A Bíblia, que se divide em Velho e o Novo Testamento, o primeiro contendo os cinco livros de Moisés, e mais: Juizes, Reis, Crônicas, Salmos, Profetas, etc., todos referentes à vida do povo de Israel antes da vinda de Jesus; e o segundo, que enfeixa as narrativas da vida e dos ensinos de Jesus e que contém os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, os Atos dos Apóstolos, as Epístolas de Paulo, de Pedro, Tiago, João e Judas, e o Apocalipse de João, sendo que, para o catolicismo romano, ainda existem as Decisões Canônicas, que são resoluções de concílios mais ou menos ecumênicos, sobre matéria de fé e de procedimento religioso, decisões essas que exercem maior influência que os próprios Evangelhos.

E sobre os Evangelhos convém fazer ainda uma última observação que é a seguinte: eles foram compilados, após a crucificação de Jesus, pelos seus discípulos, que os redigiram de memória, segundo aquilo que viram diretamente ou ouviram de terceiros. Esses Evangelhos, nos primeiros tempos, constituíam folhas avulsas que circulavam entre os adeptos dum lugar para outro e eram lidos e comentados nas reuniões em comum. Mais tarde foram se reunindo em livros e seu número era tão numeroso que, pelo ano 400, o bispo Damaso encarregou o frade Jerônimo de enfeixá-los num só livro, traduzindo-os para o latim.

De setenta e dois evangelhos que recolheu, São Jerônimo selecionou os quatro que conhecemos. Três dos quais (Mateus, Marcos e João) foram escritos por testemunhos pessoais dos fatos neles narrados. Esses evangelhos passaram a ter existência oficial com o nome de Vulgata Latina. Todos os demais foram considerados apócrifos, isto é, não autênticos, para efeito dessa oficialização.

Os Evangelhos oficiais sofreram inúmeras alterações seja por parte dos católicos-romanos, seja pelos protestantes, afastando-se, assim, consideravelmente, dos ensinos originais e verdadeiros transmitidos por Jesus. O que se sabe com segurança é que o mais autêntico dentre eles é o chamado Evangelho segundo Mateus, escrito durante a vida de Jesus e, provavelmente, influenciado por ele.

Edgard Armond

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